A Orientadora Educacional do Ensino Fundamental II, Maria Aparecida Tavares tem artigo publicado na revista de circulação nacional Direcional Educador, voltada especialmente para a área educacional.
Leia o artigo na íntegra abaixo:
ENTRAVES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NUMA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA
Desde bebê o indivíduo vivencia importantes estágios que determinam o desenvolvimento da sua inteligência (estudo realizado por Piaget) e se as estruturas mentais são construídas para que o aprendizado aconteça o que faz com que essa aprendizagem emperre? Ou mesmo com que ela não ocorra? O que possibilita o surgimento de entraves que dificultam o processo educativo?
A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte de sua educação e de sua aprendizagem. Por meio desta aprendizagem ela é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus saberes. De acordo com Andrade (1998, p. 23), “a família é o primeiro núcleo social que abriga o homem. É ela que vai dar condições à criança de construir seus modelos de aprender e aprender”.
A labuta diária, situações novas e adversas, o capitalismo, a competitividade, o desemprego, os conflitos conjugais entre outros fatores, caracterizam o formato das famílias atuais e este tem contribuído em percalços que conduzem nossas crianças a enfrentar dificuldades de aprendizagem, por vezes, um comportamento de ansiedade e insegurança, visto as famílias não terem condição de apoiá-las, acompanhá-las e até induzirem esse tipo de sentimento.
Segundo Pego (2003),quando uma criança desenvolve um problema de aprendizagem, este pode ser consequência de aspectos familiar da criança que interferem em sua maneira de pensar e de agir, de forma a minar-lhes as potencialidades ou criar um obstáculo para aquisições novas.
O papel do meio na constituição da pessoa é de fundamental importância para o seu desenvolvimento tanto afetivo como intelectual. As atitudes das pessoas são consideradas complementares às do meio, tanto quanto determinadas pelas suas disposições individuais e pelo papel e lugar que ocupa no grupo social a que pertence.
Ao se analisar o que está por trás das dificuldades de aprendizagem, percebe-se que as crenças e atitudes do passado são influências diretas no impedimento do ato de aprender, uma vez que, desde a infância, o indivíduo é bombardeado pelo que o cerca, com palavras de ordem que ditam como agir, que determinam a capacidade ou incapacidade. Aprende-se inicialmente por imitação, reproduzindo atos e atitudes dos pais e de pessoas do entorno cotidiano, que marcam e influenciam a maneira de pensar, de agir, desenhando nossa personalidade.
A Psicopedagogia, área que estuda entraves que caracterizam dificuldades na aprendizagem, tem como objetivo básico o diagnóstico psicopedagógico a fim de “identificar os desvios e os obstáculos que acercam o modelo de aprendizagem do sujeito que, o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (Weiss, 2003 p.32)
A função do psicopedagogo será de intervir, buscando remover as causas profundas que levaram ao quadro do não aprender, dos entraves que dificultam o processo de aprendizagem. O papel deste profissional é visto por Oliveira (2006) como interventor junto à família das crianças que apresentam dificuldades em aprender, por meio de uma entrevista e de uma anamnese com essa família, para tomar conhecimento de informações sobre sua vida orgânica, cognitiva, social e emocional. Estando assim atentos no que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento do filho que é visto como importância para o psicopedagogo chegar ao diagnóstico.
Segundo Oliveira (2006), o aprendizado não é adquirido somente na escola, é construído pela criança em contato com o social, junto com sua família e o mundo que o cerca.
A família é responsável pela construção dos primeiros saberes da criança. Uma vez inserida em um ambiente estimulador e cercada de atenção, amor e acompanhamento da família, o individuo elenca requisitos importantes para abrir possibilidades de vencer obstáculos e ampliar seus conhecimentos na escola e na sociedade.
Para Andrade (1998), as possíveis causas para a dificuldade de aprendizagem são de ordem familiar, escolar, cognitiva, física e emocional. As referidas instâncias apresentadas, aquelas de ordem inconsciente parecem ser aquelas que mais exigem investigação. Não se pode ignorar que o conteúdo inconsciente interfere na aprendizagem da mesma forma que interfere em todos os atos da vida de uma pessoa. Consistindo assim, num ponto que dispensa controvérsias.
A estimulação ou a motivação para aprender devem ser compreendidas na relação entre os aspectos afetivos e cognitivos do indivíduo, ambos dependentes do meio social. Assim, as crianças provenientes de contextos familiares que não conseguem valorizar a aprendizagem tendem, na maioria das vezes, a não investir energia suficiente para aprender.
A autoestima elevada conduz às vitórias. Quando somos estimulados, respeitados e orientados, à medida que nos sentimos acreditado, abrimos possibilidades e buscamos com confiança enfrentar desafios e vencer qualquer dificuldade, estreitando a relação com a aprendizagem e destruindo ou amenizando entraves no processo de aprendizagem.
Problemas de aprendizagem são considerados para Scoz, (1992), não como o contrário de aprender, mas como um processo diferente deste, um estado particular de um sistema que, para equilibrar-se, precisou adotar um determinado tipo de comportamento que determina o não aprender e que cumpre assim uma função positiva.
Vygotsky ressalta, no entanto, que, se o meio ambiente não desafiar, exigir e estimular o intelecto, esse processo poderá se atrasar ou mesmo não se completar, ou seja, poderá não chegar a conquistar estágios mais elevados de raciocínio. Isto quer dizer que o pensamento conceitual é uma conquista que depende não somente de esforço individual, mas principalmente do contexto em que o indivíduo está inserido. Demonstra a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. (PEGO, 1983, p. 78 e 121).
Freud (1914) relata que é através dos cuidados dispensados à criança, dos investimentos dirigidos a ela pelo olhar, pelos toques, pela palavra e atenção dos pais, que vai ser possível darem à criança a vivência de perfeição, de ego ideal, de ser amada incondicionalmente. São tais vivências que vão proporcionar à criança sentimento de importância e valor. (OLIVEIRA, BOSSA, 2007, p. 73).
Os sentimentos positivos de sentir-se importante e capaz fortalecem a autoestima e a segurança proveniente disso garante ao indivíduo sua capacidade de lutar, estreitar laços com aprendizagem e vencer obstáculos.
Enfim, vale enfatizar: Com incentivo, amor e orientação, o indivíduo pode construir sua modalidade de aprender, minimizar entraves e ser um campeão do aprendizado.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, M. S. de. Psicopedagogia Clínica. Manual de aplicação prática para diagnóstico de distúrbios do aprendizado. São Paulo. Polus Editorial, 1998
BOSSA, N. A. Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis. Vozes, 2007.
OLIVEIRA, V. B. de. O símbolo e o brinquedo - a representação da vida. Petrópolis. Editora Vozes, 1996.
PEGO, M. G. T. A representação simbólica na clínica psicopedagógica. São Paulo: Vitor, 1983
WEISS, M. L. L Psicopedagogia Clínica. Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro-RJ, DR&A editora, 2003, 10ª Ed.